Estátua de Camões, em Constância. Foto: António Matias Coelho

A pandemia segue o seu caminho mas o mundo não pode parar. A meio da próxima semana será 10 de Junho, Dia de Camões. Em Constância, como acontece há muitos anos nesse dia, vamos assinalar a data e homenagear o nosso épico. O tempo que vivemos e a doença que nos ameaça obrigam a cuidados que impõem um novo figurino. Novo e estranho, com máscara a tapar os rostos. Quase todos os rostos.

Há mais de 30 anos que acompanho as cerimónias do 10 de Junho em Constância e nunca, até agora, tinha vivido, nem sequer imaginado, uma coisa assim. Pela primeira vez – e, esperemos, pela última também – as cerimónias do Dia de Camões na Vila Poema assumirão um caráter privado, serão reduzidas à expressão mais simples da deposição de coroas de flores no monumento ao poeta e limitadas a um pequeno número de participantes. Todos de máscara no rosto.

Estando a Escola Luís de Camões de Constância encerrada para a grande maioria dos alunos e não sendo desejáveis (nem permitidos) ajuntamentos de muitas pessoas, não existem condições para a realização das Pomonas Camonianas que há mais de um quarto de século animam a vila por estes dias, homenageando o poeta, trazendo a sua época ao nosso tempo e reforçando a relação de afeto que liga a comunidade de Constância à memória de Camões. Todas as atividades culturais que habitualmente se realizam na vila nesta altura do ano foram suspensas porque outros valores mais altos se alevantam…

Mas o 10 de Junho, Dia de Camões, não pode passar em claro, como se não existisse no nosso calendário festivo e afetivo. Por isso, as três instituições que costumam organizar os festejos do 10 de Junho em Constância – a Câmara Municipal, a Associação da Casa-Memória de Camões e o Agrupamento de Escolas – acordaram numa forma de, com dignidade e em segurança, assinalar a data e homenagear o nosso épico, através de um ato simbólico de deposição de coroas de flores no Monumento a Camões.

Participarão os representantes da comunidade (eleitos da Câmara Municipal, da Assembleia Municipal e das Juntas de Freguesia do concelho), da Direção da Casa-Memória de Camões e do Agrupamento de Escolas de Constância. A comunidade educativa, que tão ativa e empenhadamente se costuma envolver na organização e na realização das Pomonas Camonianas, estará, também simbolicamente, representada por um par de jovens alunos trajados ao jeito quinhentista.

A cerimónia será breve e discreta, como convém nestes tempos em que se impõem especiais cuidados com a saúde de todos. E serão, como é forçoso que sejam, assegurados os distanciamentos entre as pessoas e todas as demais recomendações da Direção-Geral da Saúde. Estaremos, portanto, todos de rosto tapado como agora é forçoso quando nos juntamos em grupo. Todos, não: na sua serena juventude, fitando, com ambos os olhos, o curso das águas do Zêzere a caminho do Tejo, será Camões a exceção. Só ele não estará de máscara, esse objeto estranho aos nossos hábitos que agora se vai tornando adereço incontornável.

Nós, os vivos, usamos máscara para nos defendermos da doença e da morte que ela pode trazer. Camões, por ser imortal, claramente não necessita dela…

É ribatejano. De Salvaterra, onde nasceu e cresceu. Da Chamusca onde foi professor de História durante mais de 30 anos. Da Golegã, onde vive há quase outros tantos. E de Constância, a que vem dedicando, há não menos tempo, a sua atenção e o seu trabalho, nas áreas da história, da cultura, do património, do turismo, da memória de Camões, da comunicação, da divulgação, da promoção. É o criador do epíteto Constância, Vila Poema, lançado em 1990 e que o tempo consagrou.
Escreve no mediotejo.net na primeira quarta-feira de cada mês.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *