Máscara covid-19 e um poema de Jorge de Sena no busto de Camões revoltou a comunidade de Constância. Foto: DR

“Uma ofensa e uma vergonha…Camões desrespeitado”, assim se expressaram os responsáveis da Associação Casa Memória de Camões após depararem-se com a imagem do poeta com uma máscara de proteção à covid-19, ladeado por um poema de Jorge de Sena e uma coroa de flores com a bandeira de Portugal. “A Direção da Associação lamenta profundamente atos cobardes como este que apenas pretendem denegrir e por essa via prejudicar o trabalho e o bom nome de uma Associação que se rege por outros valores e age com bem diferentes objetivos”. Também o presidente da Câmara Municipal de Constância disse lamentar profundamente aquilo que a foto retrata. “Nada justifica uma atitude destas”, criticou.

Em comunicado divulgado na página oficial da Associação Casa Memória de Camões, os elementos da direção dão conta da sua indignação: “a coberto do escuro da noite, alguém que não tem coragem para assumir os seus atos, resolveu desrespeitar o Monumento a Camões onde, no 10 de Junho, a comunidade constanciense, representada pelos seus eleitos nos órgãos autárquicos, a Associação da Casa-Memória de Camões e a comunidade educativa, representada pela Diretora do Agrupamento de Escolas e por um par de alunos, depositara flores em homenagem ao nosso épico”, pode ler-se.

Para a Associação, presidida por António Matias Coelho, “trata-se de uma ofensa a Camões, a Constância e a quantos, há muitos anos, vêm batalhando, de forma dedicada, entusiástica e generosa por uma nobre causa: reforçar a relação afetiva de Constância com Camões, conservar e melhorar o Jardim-Horto de Camões e reunir as condições que permitam a abertura permanente ao público da Casa-Memória de Camões. Os resultados desse trabalho estão à vista de quem queira ver e dele é eloquente prova a Declaração de Interesse Cultural da Casa-Memória por parte do Ministério da Cultura recentemente conseguida”.

A imagem do poeta Luís Vaz de Camões apareceu com uma máscara de proteção à covid-19, ladeado por um poema de Jorge de Sena e uma coroa de flores com a bandeira de Portugal. Foto: DR

Em jeito de conclusão, a direção da Associação “lamenta profundamente atos cobardes como este que apenas pretendem denegrir e por essa via prejudicar o trabalho e o bom nome de uma Associação que se rege por outros valores e age com bem diferentes objetivos”.

Também o presidente da Câmara Municipal de Constância se expressou publicamente sobre um ato que disse nada o justificar: “lamento profundamente aquilo que esta foto retrata. Nada justifica uma atitude destas. O respeito pelo próximo e pelas Instituições tem vindo a desaparecer. Tinha vontade de dizer muito mais, mas fico-me por aqui”, escreveu Sérgio Oliveira.

Contactado pelo mediotejo.net, António Matias Coelho disse hoje que o autor da colocação das flores e do poema junto ao busto de Camões já contactou a direção da Associação Casa Memória, dando conta de não querer ofender a memória do poeta, antes homenagear, rejeitando, no entanto, a autoria da colocação da máscara no busto. Para o responsável da Associação a situação é “lamentável”, tendo lembrado que quem praticou tal acto o fez a coberto da noite e que o que se exigia era um pedido de desculpa público, o que o autor terá rejeitado fazer.

Os casos de vandalismo a estátuas, monumentos e locais de elevada simbologia histórica e cultural têm sido notícia nos últimos dias, como seja o caso em concreto da vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa, pintada com a palavra “coloniza”, em tinta vermelha.

No seguimento a morte do norte-americano George Floyd e das manifestações que se lhe seguiram, vários monumentos têm sido vandalizados e derrubados em cidades dos Estados Unidos, mas também na Europa, por serem associados ao racismo e a períodos da escravatura por alguns movimentos. Não se se sabe se Luís Vaz de Camões estará a ser associado a estes episódios, mas que a sua estátua, da autoria de Lagoa Henriques, apareceu mascarada é um facto que a foto documenta e que revoltou a comunidade constanciense que nutre grande apreço e afeição pelo poeta maior, de quem a tradição popular refere que ali terá vivido.

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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