Autarcas de Abrantes foram hoje ameaçados verbalmente e agredidos fisicamente em reunião de Câmara pelo cidadão abrantino Jorge Ferreira Dias. O ex-empresário da construção civil, que há anos acusa a Câmara Municipal de Abrantes da falência das suas empresas, entrou de rompante e visivelmente transtornado no auditório do Edifício Pirâmide, onde decorria a sessão, tendo sido detido posteriormente pela PSP.
O presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, e o vice-presidente, João Gomes, foram esta manhã agredidos pelo ex-empresário Jorge Ferreira Dias em plena reunião de Câmara Municipal que decorria no auditório do edifício Pirâmide, em Abrantes, tal como a funcionária que tentou travar a sua entrada.
O cidadão entrou pela sala munido de um cajado e perguntou: “Querem resolver coisa a bem ou o que querem fazer? Querem resolver a coisa a bem ou vou ter de matar todos?” Posteriormente ameaçou que, caso tivesse de regressar, iria entrar com “uma granada em cada mão” e depois “fechar a porta”.
Recorde-se que o ex-empresário da construção civil acusa a Câmara Municipal de Abrantes da falência das suas empresas, tendo já perdido uma ação em tribunal em que pedia uma indemnização por perdas e danos no valor de 6 milhões de euros. A autarquia foi absolvida em novembro do ano passado.
Abrantes | Câmara absolvida no caso que a opôs à empresa “Construções Jorge Ferreira Dias”
A reunião de Câmara de Abrantes foi suspensa, bem como a sua transmissão online, enquanto Jorge Ferreira Dias ameaçava os autarcas, dizia que eram “malandros”, revirava mesas e danificava algum equipamento, batendo com o cajado em cima do mobiliário.
Durante o confronto, Ferreira Dias avançou com o cajado para o presidente da Câmara Municipal, Manuel Jorge Valamatos, que ficou ferido na face, junto ao lábio. Foi depois assistido numa ambulância dos Bombeiros de Abrantes, que entretanto chegou ao local.
No local esteve também presente uma ambulância do INEM. O vice-presidente, João Gomes, ficou magoado num braço devido a uma agressão com uma cadeira, tal como uma funcionária municipal, visivelmente nervosa com a situação. Foram depois transportados para o Hospital de Abrantes para a realização de exames médicos.
Jorge Ferreira Dias acusou os autarcas de “falsificação de documentos, burlas”, gritando frases como “Vejam o que fizeram com a Mercar” e “Acabou-se! Malandros!”.
A PSP foi chamada ao local, retirou o cidadão do auditório do Edifício Pirâmide, ouviu os depoimentos das pessoas agredidas e identificou as testemunhas. O caso segue agora para o Ministério Público.
Devido à sessão ter sido suspensa, será agendada uma nova data para a realização da reunião de Câmara.
Câmara confirma que presidente, vice-presidente e trabalhadora foram agredidos durante reunião de executivo
O Município de Abrantes confirma que hoje, no decorrer da reunião de Câmara Municipal, “o Sr. Jorge Ferreira Dias, munido de um pau com gancho de ferro, entrou ilegalmente no edifício onde decorria a sessão, proferiu várias ameaças verbais aos presentes e agrediu fisicamente o presidente, o vice-presidente e uma trabalhadora do Município”.
Em comunicado enviado às redações informa que “devido aos ferimentos, foram chamados ao local os Bombeiros que transportaram o presidente, vice-presidente e a trabalhadora da Câmara Municipal ao hospital de Abrantes para observação e tratamento hospitalar. Foi ainda transportada outra trabalhadora que, devido aos acontecimentos, teve um ataque de pânico”.
Acrescenta que “a polícia foi chamada a intervir, tendo sido apresentada queixa contra o agressor pelas sucessivas ameaças de morte, agressões e outros eventuais crimes, cometidos no presente dia e noutras ocasiões, quer em reuniões de Câmara, assembleias municipais e mesmo na via pública”.
A Câmara Municipal de Abrantes condena e repudia quaisquer atos de violência física e verbal praticados contra qualquer pessoa, independentemente das circunstâncias.
Nota no mesmo comunicado que “desde a tomada de posse do presidente Manuel Jorge Valamatos, que por diversas vezes o Sr. Jorge Ferreira Dias foi recebido em reunião, onde lhe foi sempre transmitido, que caberia ao tribunal pronunciar-se sobre este caso”.
E lembra que “a 25 de novembro de 2019 saiu o resultado da sentença que deu razão ao Município”. A Câmara Municipal de Abrantes esclarece que “nada deve ao Sr. Jorge Ferreira Dias, ou às suas empresas, nem estes à Câmara Municipal de Abrantes como se pode comprovar por toda a documentação do caso disponibilizada publicamente”.
A Concelhia do Partido Socialista de Abrantes manifestou também “veementemente o seu repúdio pelos acontecimentos ocorridos durante a reunião de câmara”, onde “o Presidente e Vice-Presidente, juntamente com uma trabalhadora da Câmara Municipal de Abrantes, foram agredidos com um cajado com gancho de ferro”.
“Já por inúmeras vezes o agressor se dirigiu tanto ao executivo, como aos membros da Assembleia Municipal de Abrantes, proferindo graves acusações e ameaças, tendo agora partido para a agressão física”, lamenta o partido, em comunicado.
O Partido Socialista de Abrantes considera que “estes acontecimentos não dignificam a democracia e o Estado de Direito em que todos vivemos. Aliás, nesta defesa do Estado de Direito, relembra-se que na situação em causa, o Tribunal Administrativo de Leiria já proferiu sentença, dando razão à Câmara Municipal de Abrantes.”
“Relembramos também que os partidos e movimentos políticos não devem, nem podem, servir-se deste tipo de situações nem viver de populismos e oportunismos, pondo em causa as próprias decisões judiciais. Não podemos deixar de referir que, durante este processo, alguns grupos de cidadãos organizados e partidos políticos, nomeadamente, o Bloco de Esquerda de Abrantes, por várias vezes juntaram-se ao agressor em causa, tendo organizado manifestações ou participado em reportagens televisivas.”
O mediotejo.net publicou no ano passado um extenso artigo atualizado sobre as razões que opõem Jorge Ferreira Dias à autarquia de Abrantes, que pode ler aqui.
Abrantes | Nasceu pobre, construiu empreendimentos, ganhou milhões e perdeu tudo: a história de Jorge Ferreira Dias
É claro que não se devem resolver os diferendos, através de quaisquer violências, sejam elas verbais fisicas ou psicológicas. Devido à minha atividade profisional, tive algum contato com o Sr. Jorge Dias, tendo inclusivé um pouco de conhecimento sobre o processo em causa. Mas, também muito importante, é por vezes os cidadãos (municipes), serem violentados nos seus direitos pelo poder vigente, seja poder central ou local. Aí já não interessa o estado de direito. Concluindo Este estado de direito, ven-se tornando num estado torto. Estes chavões que se vão incutindo na população, mais não servem para perpetuarem nos lugares de primazia certos indivíduos…
Não vi nenhuma agressão, apenas palavras,
Onde está o vídeo, que prova a existência de agressão.