O cenário junto ao Castelo de Almourol. Foto: mediotejo.net

Uma visita ao parque ribeirinho de Vila Nova da Barquinha revelou que Amália Rodrigues não poderia cantar o fado “Povo que lavas no rio” nas margens do Tejo. A escassez da água que corre no leito é atípica em novembro e tem sido denunciada nas redes sociais por cidadãos, ambientalistas e autarcas, como o presidente da Câmara Municipal, Fernando Freire. Conversámos com o autarca e subimos o Tejo até ao Castelo de Almourol que se transformou num símbolo da falta de respostas concretas por parte das entidades oficiais competentes.

O final de tarde em Vila Nova da Barquinha revela um cenário diferente do que é habitual no mês de novembro quando nos aproximamos da margem do rio Tejo e confirmámos as denúncias que se têm multiplicado nas redes sociais sobre a escassez de água. Por aqui, o “Povo que lavas no rio” de Amália Rodrigues teria de ser cantado junto dos tanques do parque ribeirinho, onde os patos se mantêm alheios ao triste fado deste recurso natural da região.

O leito do rio Tejo teve mais água em muitos dias de verão. Foto: mediotejo.net
O leito do rio Tejo teve mais água em muitos dias de verão. Foto: mediotejo.net

O leito do rio Tejo corre mais vazio do que em muitos dias de verão e entre as vozes (e imagens) de cidadãos e de associações ambientalistas encontra-se as de Fernando Freire, presidente da Câmara Municipal. Na conversa que tivemos à beira-rio com o autarca, Fernando Freire, referiu as condições climatéricas dos últimos tempos, marcadas pelo verão prolongado e a falta de pluviosidade, mas denuncia que se trata de “uma questão de barragens” que coloca em causa a fauna, a flora e o turismo da região.

A poluição registada nas últimas semanas e o atraso na apresentação do relatório da Comissão de Acompanhamento criada pelo Governo no início deste ano geram igual preocupação. O documento deveria ter ficado concluído em junho e o pedido de prolongamento do prazo também não foi cumprido, alimentando o que Fernando Freire diz ser “um silêncio sobre o rio Tejo” e um “não acordar com os problemas que existem”.

O cenário repete-se no Castelo de Almourol. Foto: mediotejo.net
O cenário repete-se no Castelo de Almourol. Foto: mediotejo.net

Estes alertas vêm reforçar os deixados no passado dia 7 de julho durante o congresso “Médio Tejo – Sustentabilidade do Rio”, realizado no município barquinhense pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo. Entre os representantes de instituições públicas e privadas ligadas a este recurso natural esteve o Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, que salientou o empenho do Governo na resolução de uma situação caracterizada, na altura, de “preocupante”.

Quatro meses depois, a viagem Tejo acima até ao Castelo de Almourol confirma que a situação se mantém inalterada e à vista de todos. O curso de água limitado transforma o monumento num símbolo da falta de respostas concretas por parte das entidades oficiais competentes e a idílica ilhota do Tejo pouco ou nada tem de ilhota numa tarde de novembro em que seria possível conquistar o castelo a pé.

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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