Estado rejeita proposta do município de Tomar para aquisição da Sinagoga. Foto: mediotejo.net

A Sinagoga de Tomar vai reabrir ao público esta sexta-feira, dia 9 de novembro, após o monumento ter estado fechado durante 11 meses para obras de requalificação. Por este motivo, a exposição com o respetivo espólio, que tem estado patente no Complexo Cultural da Levada, foi encerrada na terça-feira.

A obra foi adjudicada por 227.520,64 euros e divide-se em duas fases: intervenção no local de culto e a instalação de um núcleo interpretativo e a beneficiação do espaço verde, na envolvente da Sinagoga. Neste momento apenas terminou a primeira fase, pelo que a obra no exterior será para executar em futura intervenção.

Os trabalhos na Sinagoga de Tomar tiveram início a 20 de dezembro de 2017 e previam-se que durassem 130 dias mas a empreitada acabou por se prolongar no prazo e sofrer sucessivos adiamentos devido às próprias particularidades da obra, tais como os achados arqueológicos registados no local.

A falta de mão-de-obra da empresa responsável pela intervenção, a “Vestígios e Lugares, Construções Lda”, também dificultou o andamento das obras.

A obra incluiu a conservação e restauro do monumento (rebocos, cobertura, instalação elétrica, acústica, criação de mobiliário expositivo) e a criação de infra-estruturas de apoio ao visitante (instalação sanitária, passadiço e valorização do logradouro). O objetivo da intervenção passou por melhorar o impacto do monumento, mantendo as memórias da construção original e respeitando-se o culto judaico.

Monumento nacional classificado desde 1921, a intervenção na Sinagoga de Tomar contou ainda com um apoio da Noruega, através do fundo EE Grants, no valor de 150 mil euros.

Executivo promoveu visita a obras no passado dia 11 de setembro Foto: mediotejo.net

Apesar de não existirem ainda dados de 2018, o Turismo Judaico não pára de aumentar em Tomar. À semelhança do que aconteceu no Convento de Cristo, também a Sinagoga de Tomar bateu um recorde de visitantes em 2017, segundo dados revelados pelo Município.

Segundo os dados fornecidos pela câmara de Tomar, em 2017 a Sinagoga foi visitada por 61.974 turistas, dos quais 49.319 (cerca de 74%) são estrangeiros. Aliás o número de portugueses a visitar a Sinagoga baixou em relação a 2016. Só de Israel vieram 18.168 visitantes, nacionalidade com maior representatividade na estatística dos visitantes. Seguem-se França e Estados Unidos mas em muito menor número. Junho foi o mês com maior número de visitantes e dezembro o que registou menos movimento, uma vez que foi nesse mês que o monumento fechou e se iniciaram as obras de reabilitação.

A criação da Rede das Judiarias, de que Tomar faz parte juntamente com cerca de 30 sítios, contribuiu para que o Governo identificasse o turismo judaico como um pilar muito importante para o turismo nacional, como tem referido a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.

Um raro exemplar dos templos judaicos medievais

Raríssimo exemplar dos templos judaicos medievais e da arte pré-renascentista portuguesa, a Sinagoga de Tomar é a única, dessa época, integralmente conservada ainda existente em Portugal. Foi construída em meados do século XV propositadamente para a função religiosa, o que revela a disponibilidade financeira da comunidade judaica aqui residente, a sua pujança e a sua prosperidade.

A arquitetura do edifício, simples e com influências orientais (de planta quase quadrangular com abóbadas de arestas assentes em quatro colunas, capitéis decorados com motivos geométricos e vegetalistas e doze mísulas adossadas às paredes), está carregada de simbolismo: as mísulas representam as Doze Tribos de Israel; as colunas assinalam as quatro Matriarcas de Israel – Sara, mulher de Abraão, sua sobrinha Rebeca, esposa de Isaac, Lea e Raquel, irmãs, filhas de Labão; e os capitéis apontam os parentescos das Matriarcas – dois iguais para as irmãs e os restantes, diferentes, para a tia e sobrinha.

Em cada canto superior existem dois orifícios que correspondem aos bocais de bilhas de barro colocadas dentro das paredes, viradas para baixo, para melhoria da acústica do templo. Uma delas está parcialmente visível, para melhor compreensão.

Luís Vasco foi o zelador da Sinagoga de Tomar durante mais de 25 anos, tendo falecido em novembro de 2012. Foi a sua esposa, Maria Teresa, que ficou a substituí-lo, recebendo os turistas no templo situado na Rua Joaquim Jacinto (Rua da Judiaria), no centro histórico da cidade. A guardiã da Sinagoga faleceu a semana passada aos 73 anos, uma semana antes do monumento reabrir, numa nova fase.

Aos 12 anos já queria ser jornalista e todo o seu percurso académico foi percorrido com esse objetivo no horizonte. Licenciada em Jornalismo, exerce desde 2005, sempre no jornalismo de proximidade. Mãe de uma menina, assume que tem nas viagens a sua grande paixão. Gosta de aventura e de superar um bom desafio. Em maio de 2018, lançou o seu primeiro livro de ficção intitulado "Singularidades de uma mulher de 40", que marca a sua estreia na escrita literária, sob a chancela da Origami Livros.

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