Lucinda Pires no mercado municipal de Abrantes

O mercado municipal de Abrantes não convence nem comerciantes nem clientes. Vozes que vendem e compram no novo mercado desde 2015 manifestam-se “descontentes” com a infraestrutura, principalmente nos dias de chuva em que o edifício apresenta infiltrações e escorrências. Lucinda Pires trabalhou esta sexta-feira, 9 de março, de guarda-chuva aberto.

Lucinda Pires vende frutas e legumes há três anos no mercado municipal de Abrantes e confessa-se muito insatisfeita com o novo edifício. Do frio à chuva passando pela falta de clientes, motivos que a levam a pensar em abandonar o negócio e a banca de venda no mercado. “Se tivesse emprego já não estava aqui” garante ao mediotejo.net.

Vinda de Casais de Revelhos, trabalha no mercado de segunda a sábado das 08h00 às 13h00, e em manhãs chuvosas quando chega à sua banca de fruta e legumes encontra o desconforto. “Tenho isto tudo molhado. Ligo o aquecedor mas mesmo assim não resulta, estou toda a manhã com os pés molhados, o que não é saudável para ninguém”, desabafa.

As frutas e os legumes na bancada de Lucinda Pires

Como causa aponta os vidros que “não são unidos uns aos outros” permite infiltrações de água para dentro do edifício e é de guarda-chuva aberto que por vezes atende os clientes.

Lucinda afirma ter comunicado à Câmara Municipal de Abrantes a situação de chuva dentro do mercado. “Sim. Falei mesmo com a senhora presidente que me disse saber da situação e que ia ser resolvida”. A resolução, conta a vendedora, passou pela “colocação de persianas, o que não resolveu nada, a chuva entra na mesma”.

Os prejuízos vão além do desconforto térmico: “é água a cair em cima das batatas, farto-me de deitar batatas fora, inclusivamente a bata doce que tinha aí foi toda para o lixo. Chove nas cebolas e até nas máquinas… qualquer dia avariam, por isso hoje tive de colocar um guarda-chuva por cima”.

Doncilia vive na cidade e vai quase todos os dias ao mercado municipal de Abrantes

Doncilia, com quase 70 anos, mora em Abrantes e vem com regularidade ao mercado municipal fazer as suas compras. Quando chove mantém o guarda-chuva aberto dentro do edifício. “Tem de ser senão apanho uma constipação” explica ao mediotejo.net. Confirma que em dias de chuva, o novo mercado municipal apresenta problemas de infiltrações e escorrências. “Sempre que chove. Nos dias em que cá venho tenho presenciado isso”.

Para Lucinda havia uma solução: “voltar ao antigo mercado. Era plano e amplo, muito melhor que isto”, refere. Além disso, estando os vendedores todos no mesmo piso evitava o que chama “concorrência desleal”.

Lucinda refere-se à localização da sua banca que está posicionada no primeiro piso, quase solitária. Ao sábado, “o dia de melhores negócios”, permanece no mesmo local de venda diária, enquanto os comerciantes que vendem exclusivos ao sábado estabelecem-se no rés-do-chão. “São claramente beneficiados, porque os clientes vêm, compram lá em baixo e já não sobem. No sábado passado fiz 20 euros, e há dias de semana em que faço pouco mais de um ou dois euros. Assim não dá!”, lamenta-se.

As máquinas também apanham pingos de chuva

O mesmo descontentamento partilham outros vendedores com quem o mediotejo.net falou mas que pediram anonimato. “Era de voltar ao antigo mercado, que este não tem jeito nenhum!”. Justificam a falta de clientes com os vários pisos. “São idosos que vivem no centro de Abrantes, não andam a subir e a descer escadas”.

O mercado municipal, que custou 1 milhão e cem mil euros, foi inaugurado a 25 de abril de 2015, é constituído por 5 pisos, com elevador interno e escadaria exterior, tem ligação pedonal entre o Largo 1º de maio e a Rua Nossa Senhora da Conceição, no centro histórico da cidade.

Disponibiliza produtos alimentares, com predomínio de produtos hortícolas e fruta, talhos, peixaria, padaria, pastelaria e floristas. Funciona de segunda a sexta feira, entre as 08h00 e as 19h00 e aos sábados das 7h30 às 13h30.

O chão molhado e o aquecedor que Lucinda utiliza para se aquecer nos dias frios e húmidos

O processo de construção deste novo mercado começou em 2010, quando em março desse ano o antigo, datado de 1933, foi encerrado pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, tendo os comerciantes sido realojados “temporariamente” noutro espaço da cidade.

O mediotejo.net contactou a Câmara Municipal de Abrantes para dar conta da sua posição sobre os problemas relatados no mercado da cidade mas até ao momento não foram prestadas declarações.

Nas paredes interiores do edifício eram visíveis gotas de água.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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