Portugal perdeu o controlo da pandemia e a 3ª vaga trouxe o caos a Portugal. Os primeiros dias do ano têm cerca de 10 mil infetados e mais de 100 mortos por dia devido ao Covid19. O Governo perdeu claramente o pé após um conjunto de decisões e sinais contraditórios que deram um péssimo exemplo à população.
É verdade que cada um de nós tem a sua responsabilidade no cumprimento das recomendações, na utilização de máscara ou no distanciamento social. Mas os sinais contraditórios, as exceções, os números de propaganda cheios de gente, jornalistas, fotógrafos e membros do Governo e da Administração Pública em cada momento são claramente maus exemplos quando se pede aos portugueses que respeitem o distanciamento social.
Os erros do Governo são recorrentes nesta matéria. A fragilidade política da maioria parlamentar tem permitido um conjunto de exceções que os portugueses não percebem e o melhor exemplo disso são as festas do Avante, o Congresso ou os Comícios do PCP. Se estes exemplos são apenas maus exemplos cujas consequências todos desconhecemos, já as exceções e o aligeirar das restrições no Natal têm tido resultados catastróficos.
O problema da comunicação política utilizada na pandemia tem sempre consequência e o que o Governo tem feito contribuiu, na minha opinião, para o relaxamento e para o excesso de confiança das pessoas. Foi a operação vacina, foi a operação salvar o Natal e mais um conjunto de iniciativas que levaram a desfocar a preocupação dos portugueses relativamente ao COVID19. O resultado está à vista de todos e as lideranças políticas do país têm as suas responsabilidades. E neste capítulo assumo que o Primeiro-Ministro não ficou sozinho na decisão, teve o respaldo da maioria dos líderes partidários.
Em devido tempo escrevi que os portugueses, mais do que preocupados em salvar o Natal, queriam era livrar-se desta pandemia o mais rápido possível, mesmo que isso nos custasse não festejar o natal como habitualmente. Suspender o confinamento deu um sinal errado às pessoas.
As medidas que ontem conhecemos são duras, mas muitas delas necessárias e algumas absurdas.
Um dado que devo salientar é o facto de as escolas continuarem a funcionar pois o risco de doença e complicações graves para os mais jovens é manifestamente baixo perante as consequências pedagógicas do seu encerramento para uma geração. Mas quanto às escolas não podemos ignorar o facto de o Governo ter falhado redondamente na criação de condições para o acesso de todos os alunos a meios tecnológicos. Feliz ou infelizmente, as escolas vão ficar abertas porque se fechassem os alunos com mais dificuldades não teriam possibilidades de assistir às aulas porque o Governo não fez mais uma vez o trabalho de casa pois dos 400 mil computadores prometidos nem 100 mil estão entregues.
Outro facto que não posso ignorar e de lamentar é o atraso, mais uma vez, no planeamento desta 3ª fase e em particular a coordenação entre o SNS e os sectores sociais e privados da saúde. É nesse preconceito ideológico que há responsabilidades políticas do Governo nas mortes de muitas pessoas que viram as suas consultas e cirurgias adiadas. Como disse o candidato Tino de Rãs “eu prefiro ser tratado no SNS, mas se não houver essa possibilidade eu quero é ser tratado”. Infelizmente muita gente não tem possibilidades de fazer esta opção.
O mal está feito, agora resta-nos confinar mais uma vez para tentar reduzir os danos de uma política que falhou. As medidas que ontem ficámos a conhecer são também demasiado contraditórias e noutros casos injustas. Há pequenos negócios e comércios cuja taxa de risco é bastante baixa, que atendem um cliente de cada vez e que são obrigados a encerrar. Falo das pequenas lojas cujos proprietários são praticamente os seus únicos funcionários e que sem essa receita ficam com a sua vida em suspenso. É preciso mais bom senso e menos gestão política.