Quando falamos de Charles Darwin pensamos no macaco como “primo” distante, mas sabia que no álbum de família pode incluir uma rosa, um urso ou um dinossauro? A teoria que junta os organismos vivos na “Árvore da Vida” foi traduzida em miúdos este sábado, dia 21, pelo Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) durante o espetáculo “A Origem das Espécies”. Entre o público que esgotou o auditório do Centro Cultural Gil Vicente esteve a atriz Eunice Muñoz que foi homenageada pelo município sardoalense antes da peça subir ao palco.
Quando o biólogo e naturalista inglês Charles Darwin subiu a bordo do navio H.M.S. Beagle em 1831 para a expedição científica de meia década à volta do mundo não sabia que 186 anos depois iria ser falado no Sardoal. Passou pelas ilhas Galápagos, publicou a obra “Origem das Espécies” em 1859, revolucionou a noção que a sociedade tinha sobre a vida no planeta, mudou mentalidades, gerou polémica, fez História e inspirou Tiago Rodrigues a encenar o espetáculo que subiu ao palco do Centro Cultural Gil Vicente este sábado.
A forma escolhida pelo diretor artístico do TNDM II para explicar aos mais novos a evolução dos organismos vivos como resultado de um processo de seleção natural em que apenas sobrevivem aqueles que conseguem adaptar-se foi um palco vestido pelos movimentos dos atores, jogos de luz e sombra, elementos multimédia e música.
As palavras, essas, surgem escritas na tela onde acontece o Big Bang. Faladas, apenas no primeiro instante e a meio da viagem que Carla Maciel, Crista Alfaiate, Marco Paiva e Paula Diogo fazem sem identidades falsas, algures entre a indicação técnica “o pano vai subir” e o foco de luz que acompanha a pergunta no auditório “está aí alguém?”.
E sim, está. A história do menino solitário que alimentava a curiosidade nos seus passeios, o mesmo menino que viria a revolucionar a forma como encaramos a evolução da vida no planeta a partir de um ancestral comum. “Somos todos da mesma família, é isso? Eu posso ser prima de uma rosa?” pergunta-se no palco. A resposta afirmativa é representada no quadro através da “Árvore da Vida”, à qual pertencem todas as espécies.
Seguindo a teoria, o público que esgotou o auditório do Centro Cultural Gil Vicente, à semelhança do verificado quando a peça “Ifgénia” ali subiu ao palco no passado mês de novembro, partilha muito mais do que a prova do sucesso da Rede Eunice no Sardoal. Este sábado, o TNDM II trouxe mais do que cultura aos territórios de baixa densidade e o concelho recebeu Eunice Muñoz, que lhe empresta o nome, para uma homenagem.
O filho da atriz e a presidente do TNDM II, Cláudia Belchior, estiveram entre as muitas pessoas no foyer que aplaudiram o momento em que a grande dama do teatro, com 88 anos de vida e 75 de carreira, descerrou a placa e recebeu as flores amarelas. Das mãos do presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges, chegou a fotografia em que pousa com os presidentes dos três municípios abrangidos pela Rede Eunice na primeira fase (Sardoal, Funchal e Vila Real).
A primeira temporada deste projeto de difusão e descentralização cultural (2016/17) termina no Médio Tejo com a peça “As Criadas”. No entanto, maio não significa mês da despedida pois o protocolo assinado entre o município e o TNDM II em novembro último prevê seis novos espetáculos até 2019.
Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.