Para esta crónica, com uma pequena adaptação menos açucarada, aproprio-me do título de uma canção escrita em 1987 pelo brasileiro Renato Russo e que “reza” assim:
“Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo o lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Marchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão”
Mais de três décadas nos separam de uma letra que foi escrita para a realidade brasileira daquela altura, mas ela podia ter sido escrita hoje, tanto para o Brasil como para Portugal, tal a sua atualidade e a ergonomia com que encaixa na perfeição na raiz do problema dos dois países.
Para dar mais força ao que escrevo cito Gimba, um prodígio incompreendido e desalinhado no panorama musical nacional que, na sua genial criatividade, escreveu no final de 2018 o tema “Vá lá”, que contém estas pérolas no meio de outras pedras preciosas que compõem toda a letra e que, por isso, aconselho a quem desconhece, que pesquise para ficar a conhecer:
“Vá lá, reformados, pensionistas
O governo tem artistas
Pagos pra vos enganar
Vá lá, moribundos, acamados
Incapazes, entrevados
Vamos, toca a levantar!
Vá lá, capitães e generais
Mais as tias de Cascais
Na orgia do cifrão
Vá lá, ministros e deputados
Com os bolsos recheados
Façam a revolução!”
Penso que estamos de acordo que há uma linha condutora que liga estas duas letras e que aproxima, na essência, duas realidades que estão fisicamente separadas por milhares de quilómetros.
Com este pequeno enquadramento transatlântico, ficamos com a sensação que o problema não é superficial e que, talvez, já faça parte do nosso ADN.
Com tudo aquilo que vamos tendo conhecimento, apetece recordar Renato Russo e perguntar, que país é este?
Que país é este que deixa morrer os seus cidadãos para salvar os seus barões?
Que país é este que cobra tostões, mas perdoa milhões?
Que país é este que poupa naquilo que é essencial, mas que gasta naquilo que é acessório?
Que país é este que publicita equilíbrios, mas promove desequilíbrios?
Que país é este que fala em igualdade, mas acentua a desigualdade?
Que país é este que burocratiza a exigência, mas normaliza o erro e a falta de decoro?
Que país é este que confunde serviço público com servir-se do público?
Que país é este que às perguntas sobre corrupção responde dando exemplos práticos, deixando entender que estamos perto de atingir a impunidade de grupo?
Com todos estes exemplos, que legado estamos a deixar às próximas gerações? Dá que pensar, não dá? Afinal de contas, que país é este?
É gestor e trabalhar com pessoas, contribuir para o seu crescimento e levá-las a ultrapassar os limites que pensavam que tinham é a sua maior satisfação profissional. Gosta do equilíbrio entre a família como porto de abrigo e das “tempestades” saudáveis provocadas pelos convívios entre amigos. Adora o mar, principalmente no Inverno, que utiliza, sempre que possível, como profilaxia natural. Nos tempos livres gosta de “viajar” à boleia de um bom livro ou de um bom filme. Em síntese, adora desfrutar dos pequenos prazeres da vida.