Na sessão de abertura das Jornadas da Educação de Abrantes 2018, esta terça-feira, 13 de março, foi apresentado o projeto ‘Abrantes – Comunidade de Educação Changemaker’. A presidente da Câmara Municipal de Abrantes falou da importância da Educação para a “competitividade do nosso território e do País”. Antes da apresentação do projeto piloto que contou ainda com intervenções de Constança Aragão Morais, do Ashoka Portugal, e do secretário de Estado da Educação, João Costa, Maria do Céu Albuquerque demonstrou o alcance do Projeto Educativo Municipal (PEM) como uma estratégia educadora do Município, envolvendo toda a comunidade, aprofundando uma cultura colaborativa e respondendo aos desafios do futuro.
A presidente da Câmara municipal de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque apresentou, esta terça-feira, 13 de março, durante a sessão de abertura das Jornadas da Educação 2018, na Escola Secundária Dr. Solano de Abreu, em Abrantes,o projeto Educativo Municipal tendo como prioridade a valorização das pessoas, no sentido de melhorar a sua qualidade de vida.
E entre as medidas estruturantes conta-se a promoção de um ambiente educativo de excelência. Como? “Passando pela disponibilização de oportunidades educativas e formativas diversificadas, tendo como finalidade a formação de cidadãos mais qualificados e melhor preparados”, salientou.
A aposta passa por aprofundar a qualificação do capital humano, promover o incremento dos níveis de escolarização da população, o sucesso das aprendizagens e criar capacidades de resposta aos desafios e oportunidades do mercado de trabalho. Aliás, a Educação do Futuro e o Futuro da Educação é o tema central destas Jornadas 2018.
E são três as ações estruturantes do Projeto Educativo Municipal de Abrantes a saber: o reordenamento e modernização do parque escolar, a melhoria das condições de acolhimento das instituições de ensino superior e I&D, e a dinamização de práticas educativas e formativas de referência. Segundo explicou a presidente, o projeto conta com o contributo dos diversos intervenientes locais, independentemente da sua maior ou menor proximidade com o mundo da Educação.
Os principais objetivos do PEM centram-se no desenvolvimento de uma cultura de pesquisa, reflexão e interação em Educação; no desenvolvimento do papel de ator responsável e interveniente na comunidade educativa; e no detetar de eventuais situações desajustadas ou problemáticas ao mesmo tempo que se procura soluções eficazes e inovadoras.
Propõe-se ainda fomentar a interdisciplinariedade relacionando diferentes áreas e contextos educativos, desenvolver a capacidade de questionar e a criatividades e elaborar produtos úteis, necessários e aplicáveis.
E para concretizar do plano à prática são seis os eixos estratégicos: dispositivos de melhorias dos níveis de qualidade do sucesso escolar; promoção de ofertas formativas e a sua relação com o emprego; aprendizagem ao longo da vida; articulação institucional; valorização educativa dos recursos, equipamentos e infraestruturas; e linha de investigação sobre o desenvolvimento do Projeto.
Entre os dispositivos de melhorias dos níveis de qualidade do sucesso escolar contam-se a criação de equipas pedagógicas de trabalho dos grupos disciplinares; aplicação de estratégias de diferenciação pedagógica tendo em conta as reais necessidades de cada aluno; criação de equipas e iniciativas de articulação entre ciclos dentro dos agrupamentos escolares; modernização do Projeto Mocho XXI; e promoção do desenvolvimento de uma estrutura municipal de Apoio ao Aluno e à Comunidade.
Já na promoção de ofertas formativas destaca-se a criação de novos cursos de formação não superior em áreas adequadas ao mercado e a participação de concursos de promoção de empreendedorismo.
Maria do Céu Albuquerque explicou também que a articulação institucional passará pela realização de reuniões de concertação entre serviços do Município e as entidades educativas do concelho e a criação de um mapa da oferta e necessidades educativas e formativas do concelho.
Na valorização educativa dos recursos, equipamentos e infraestruturas a presidente destacou as reuniões de avaliação da rede de transportes e o reforço da aposta no fornecimento de uma dieta alimentar equilibradas e saudável nos refeitórios escolares. Em destaque também a realização de formação na área da segurança e suporte básico de vida. Para cumprir os objetivos será ainda criado um observatório PME e elaborado o respetivo regulamento.
Maria do Céu Albuquerque referiu ainda o PEDIME – Plano Estratégico de Desenvolvimento Intermunicipal da Educação do Médio Tejo -, como uma plataforma potenciadora das ações a desenvolver pelas escolas, pelos municípios e pela própria comunidade intermunicipal. A este propósito terá um importante papel o Conselho Estratégico para o Desenvolvimento Intermunicipal da Educação, a instância de coordenação e consulta que tem por objetivo promover o planeamento estratégico a nível intermunicipal, assegurando a definição de estratégias, ações e prioridades.
Abrantes – Comunidade de Educação Changemaker
O PEM abre assim portas para o projeto piloto de transformar Abrantes num ecossistema de aprendizagem transformadora em Portugal. Ou seja, “Abrantes – Comunidades de Educação Changemaker”.
O secretário de Estado da Educação, João Costa, explicou que o projeto piloto começou em Pequim. “Há múltiplos olhares que não estão em confronto, mas em convergência e em complementaridade”, disse o governante.
Quando conheceu a Ashoka, que nasceu nos Estados Unidos, João Costa pensou numa comunidade em Portugal que pudesse integrar esta rede internacional. E conhecendo bem o panorama educativo de Abrantes, sugeriu o projeto piloto. “Em Abrantes encontrei vontade de fazer coisas de forma diferente” e é “do maior interesse do Governo que Portugal” esteja no mapa dos projetos que contam com o apoio Ashoka espalhados pelo mundo.
O secretário de Estado não escondeu “com alguma vaidade que são muitos os que hoje querem conhecer o que está a acontecer neste momento em Portugal. Na Comissão Europeia foi pedido que houvesse um conhecimento formal do nosso documento sobre os nossos alunos à saída da escolaridade obrigatória para servir de referência ao desenho político das educativas da Comissão Europeia. E é bom quando podemos ver isto a acontecer”, referiu João Costa.
O governante deu ainda conta que o grande motivo do insucesso escolar continua a ser a pobreza e deixou claro que insistindo na aplicação de medidas standarizadas, iguais para todos é “continuar a falhar”. Defendeu uma Educação em rede e, sublinhou, em relação ao fracasso, que “enquanto andamos a passar culpas, os alunos que estão fora afundam”. Defendeu por isso os consensos para “fazer o caminho” e disse que Abrantes contará com a secretaria de Estado da Educação para o desenvolvimento do projeto.
Por seu lado, Constança Aragão Morais em representação da Ashoka Portugal explicou que o desafio é agora perceber como pode o sistema educativo responder aos desafios do século XXI? Como podemos aprender e como devemos ensinar? E deu conta de vivermos num mundo cada vez mais desafiante nomeadamente com problemas sociais, económicos e ambientais cada vez mais complexos.
Disse que a escola hoje forma, na maioria dos casos, repetidores eficientes mas passivos, que não questionam o sistema e perenizam os seus problemas, seguindo um paradigma individualista e competitivo. A Educação em questão tem hoje pouco espaço para a curiosidade, criatividade, empatia e colaboração. A Ashoka Portugal acredita que Abrantes pode ser um pólo de inovação educativa a nível nacional e internacional.
A Ashoka, em colaboração com o Ministério da Educação, quer aprender com a comunidade educativa de Abrantes, que “já conta com um longo caminho na participação comunitária e governação integrada, para levar a cabo o primeiro piloto de criação de um ecossistema de aprendizagem transformadora em Portugal”, referiu Constança.
Assim, Abrantes fará parte de um movimento global. “Será o piloto que fará parte de uma série de projetos semelhantes a nível internacional. Será um dos precursores do Global Chance Leaders, enquanto movimento global de transição do paradigma educativo”, explicou a responsável.
Na Ashoka, “procuramos ajudar a tecer ecossistemas de aprendizagem, que através do trabalho colaborativo inspirem e capacitem cada pessoa a ser um agente de transformações positivas à sua volta, em prol de um mundo melhor”.
Durante a sessão perspetivou-se um mundo em que cada pessoa tenha acesso a experiências de aprendizagem significativa ao longo da vida que lhe permitam desenvolver todo a seu potencial humano e a ajudem a assumir-se enquanto construtora do bem-estar coletivo. Na fase I realiza-se o mapeamento da colaboração no ecossistema, na fase II o levamento de práticas promissoras, na fase III a profundar a cultura colaborativa e na fase IV modelizar um ecossistema educativo de referência.
Por sua vez, a vereadora Celeste Simão, com o pelouro da Educação, explicou que as Jornadas pretendem promover a reflexão e o debate sobre os desafios da Educação e o exercício da cidadania, permitindo a participação ativa de todos num processo de construção de políticas educativas e formativas.
Esta iniciativa está também enquadrada em alguns eixos do PEM, enquanto desafio para uma política educativa integrada, com foco nas escolas, nos seus docentes e alunos, contribuindo para o enriquecimento pessoal de cada um para a discussão conjunta da educação contemporânea, suas complexidades e desafios para o século XXI.
O diretor do Agrupamento de Escolas nº 1, Jorge Costa, colocando a tónica na Educação do Futuro e no Futuro da Educação, questionou “de que modo é que o futuro inspira o nosso presente?”
A escola “vai ter de mudar porque os alunos mudaram, porque a sociedade mudou, porque o mundo está neste século em permanente mudança. A escola tem conseguido no seu esforço educar todos os jovens, apesar do mundo tecnológico que nos desafia e nos abre inúmeras oportunidades mas também nos submete na desorganização. Neste presente queremos formar pessoas competentes, bons profissionais e sobretudo boas pessoas comprometidas com o bem comum”.
Esta sessão de abertura da Jornadas da Educação contou ainda com a temática ‘Quando o cérebro do seu filho vai à escola” apresentada por Alexandre Castro Caldas, diretor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa.
A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.