Uns a medo, com a lágrima a teimar no canto do olho, outros com manifesta satisfação, as crianças da creche, pré-escolar e primeiro ciclo regressaram à escola esta segunda-feira, 15 de março, depois de perto de dois meses de confinamento e mais de um mês de aulas à distância. Para muitos pais é um alívio e confiam nos cuidados das escolas, para outros as regras de segurança poderiam ser apertadas, colocando a utilização de máscaras também no 1º ciclo.
“Eram 08h30 e já me estava a chamar para ir para escola. Não queria por nada chegar atrasado”, comentava uma mãe, que preferiu não ser entrevistada. A conjugação do trabalho com as aulas à distância elevou os nervos da família a níveis preocupantes, mas também serviu para os pais se aperceberem da evolução do filho de 6 anos na escola. O período, porém, não deixou boas lembranças.
Junto ao Centro Escolar de Santa Teresa, em Ourém, onde também funciona a creche da APDAF, a alegria e agitação das manhãs regressou e, não fosse as máscaras e os procedimentos de higienização, quase que se poderia achar que a pandemia, tal qual as férias de verão, já tinha acabado. Mas os mais novos são apenas os primeiros de muitos a desconfinar, num momento em que os números de contágios e mortes baixam mas ainda há muitas incertezas quanto ao futuro.
Domingos Patacho fala com reservas. Pensa que as medidas deveriam talvez ser mais apertadas, nomeadamente as crianças do 1º ciclo também usarem máscara. “O problema agora é que a pandemia continua”, reflete.
O confinamento foi gerido entre os pais, ora em teletrabalho, ora em apoio à família. Ainda assim, comenta Patacho, este período foi “menos mau que o anterior, porque as pessoas estavam mais preparadas”.
Andreia Oliveira estava mais otimista, acreditando que toda a situação pandémica vai melhorar. Este confinamento foi um pouco “mais duro”, admite, uma vez que o mau tempo não permitia fazer atividades alternativas com a filha. “As crianças não gostam de estar fechadas”, refere.
Alexis Pratas também não estava preocupado com o regresso do filho à creche. O novo confinamento deixou este pai em layoff, mas opta por ver o lado positivo. “Por um lado foi bom (…) os pais precisam de conhecer melhor os filhos”, comenta.
Amaro Ferro teve que contar com os pais e sogros para tomar conta do filho e conseguir trabalhar, admitindo que o confinamento foi complicado. Esta segunda-feira estava tranquilo. “Vejo que os números estão a baixar”, refletiu, “penso que o problema não será as escolas”.
Os 2º e 3º ciclos permanecem nas aulas à distância, devendo regressar ao ensino presencial a 5 de abril, depois da Páscoa.
Pais pedem cuidado às famílias para que escolas não voltem a fechar
O representante dos pais e encarregados de educação já havia alertado as famílias para a importância de “manter todos os cuidados” durante a pandemia para que não haja um recuar no processo de reabertura gradual das escolas.
O primeiro-ministro anunciou na quinta-feira, dia 11, o calendário do regresso gradual dos alunos às suas escolas, que começou hoje com as crianças das creches e alunos do ensino pré-escolar e o 1.º ciclo, e deverá terminar a 19 de abril com os estudantes do secundário e ensino superior.
Este é um calendário dependente da evolução da pandemia de covid-19 e por isso o presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap) pediu cautela às famílias, para que não haja recuos que “prejudicam as crianças”.
“Estamos a fazer um caminho, através do desconfinamento faseado, e espero que não tenhamos de voltar a fechar tudo outra vez. É preciso continuar a ter todos os cuidados até que a pandemia esteja resolvida”, disse à Lusa Jorge Ascenção.
O presidente da Confap lembrou que “não é dentro da escola que está o perigo, até porque a esmagadora maioria dos casos de contágio ocorreram fora das escolas”.
A suspensão do ensino presencial, disse, foi a resposta encontrada para reduzir a circulação de pessoas fora dos recintos escolares mas também a forma de enviar “um sinal à sociedade de que a situação era bastante grave”.
“Nós privámos os nossos filhos de se desenvolverem de forma saudável e depende agora de nós poder manter a situação. As crianças não tiveram culpa mas foram os principais prejudicados”, alertou.
O agravamento da situação pandémica no país levou a que o Governo anunciasse a suspensão do ensino presencial no final de janeiro e a marcação de uma pausa letiva de duas semanas.
As aulas foram retomadas a 8 de fevereiro com ensino à distância para todos os níveis de ensino.
Entretanto, o Governo anunciou que, no início das aulas, os funcionários das escolas assim como os alunos do ensino secundário vão fazer testes de despistagem ao novo coronavírus e os docentes vão ser vacinados contra a covid-19.
c/LUSA
Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita