A décima segunda edição da Mostra de Teatro do Grupo de Teatro Palha de Abrantes (GTPA) realizou-se este sábado, dia 13, e passou a representar a primeira do Fórum de Teatro de Amadores do Médio Tejo. O dia foi passado na sede do GTPA, com uma manhã marcada por apresentações e a tarde dedicada ao debate sobre o cenário regional, incluindo os principais desafios com que os grupos se deparam atualmente.
A XII Mostra de Teatro do GTPA ganhou uma dimensão simbólica com a realização do primeiro encontro de grupos de teatro amador do Médio Tejo sem terem como motivo a subida ao palco, mas sim a reflexão conjunta sobre a realidade regional. Uma iniciativa que Helena Bandos, presidente do GTPA, confirmou ao mediotejo.net ser a materialização de uma vontade antiga, apesar do número de participantes ter ficado abaixo das suas expetativas.
Os convites do GTPA foram enviados a quase duas dezenas de grupos de teatro amador dos concelhos da região, que esteve representada este sábado pelo grupo anfitrião, o GETAS – Associação Cultural do Sardoal, o Espaço Zero Teatro, de Tomar, a A.com.te.ser – A Companhia Teatral da Sertã e o Grupo de Teatro Apollo, de Ourém. A Federação Portuguesa de Teatro (FPT) também respondeu afirmativamente e marcou presença através do presidente da direção, José Teles.
O teatro amador do Médio Tejo, começou a ser abordado durante a manhã nas apresentações de José Heleno, José Conchinha e Luís Antunes. O primeiro dissertou sobre “O que é o Teatro”, o segundo esclareceu que “Atrás do palco também se faz teatro” e o terceiro mostrou a vertente d’“O teatro de amadores enquanto ator social”. Seguiu-se o almoço e os grupos participantes regressaram à sede do GTPA para o debate do qual surgiram as conclusões que pretendem enviar para a Associação de Municípios do Médio Tejo.
A discussão, na qual o Grupo de Teatro Apollo – representado por Dora Conde – esteve ausente devido a ter um espetáculo agendado nessa tarde, incidiu no atual contexto regional de quem sobe ao palco por gosto e não por um ordenado ao final do mês. As intervenções foram feitas de forma faseada, com o tema central dividido em três painéis, dedicados ao apoio das entidades públicas e privadas, às relações e intercâmbios e aos direitos de autor e dilema na escolha dos textos.
A realidade de cada concelho foi dada a conhecer pelos intervenientes e, apesar das diferenças locais, o consenso gerou-se nas palavras de Helena Bandos (GTPA), Cristina Curado (GETAS), José Conchinha (Espaço Zero Teatro), Zélia Machado (A.com.te.ser) e José Teles (FPT), começando com a dificuldade em obter apoios (financeiros e materiais). Estes são assegurados maioritariamente por subsídios municipais, como é o caso de Abrantes, Sardoal e Tomar.
A associação cultural sertaginense, ligada ao Clube da Sertã, recebe um valor por espetáculo e surgiu como exceção entre os grupos presentes num contexto regional em que as contribuições de entidades privadas são escassas e raramente se materializam em patrocínios. No geral, a venda de espetáculos também contribui para a subsistência e as despesas associadas à participação em iniciativas fora do concelho são, muitas vezes, minimizadas através de permutas de espetáculos entre os grupos de teatro.
Associados aos custos da apresentação de espetáculos surgem os dos textos a partir dos quais os mesmos são criados, dando o mote para o segundo painel de discussão em que se abordaram os direitos de autor. Mais uma vez, o consenso gerou-se sobre os valores “insustentáveis” cobrados pela SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, que chegam a implicar o pagamento de centenas de euros por cada espetáculo.
Uma limitação financeira que tem consequências nas escolhas dos espetáculos, optando-se na maioria das vezes, por obras clássicas que já não são abrangidas pelo Direito de Autor, em detrimento de outras mais contemporâneas que contribuiriam para a diversificação dos repertórios. As dificuldades no processo burocrático também foram apontadas neste ponto, a par da crítica ao facto SPA não publicar a lista de autores representados.
Para o final ficou reservado o painel dedicado às relações e intercâmbios entre os grupos e no qual se começou por destacar a dificuldade nos contactos. Uma situação que se pretende mudar com a continuidade do Fórum de Teatro de Amadores do Médio Tejo, numa periodicidade bienal, e a aposta na formação em teatro, sobretudo nos concelhos da região onde esta arte performativa tem, atualmente, menos expressividade.
Intenções confirmadas no final do primeiro Fórum por Helena Bandos e José Teles, tendo o presidente da FPT destacado a importância da formação e o trabalho que a federação tem desenvolvido, nomeadamente com a co-organização do Fórum Permanente de Teatro, cuja vigésima primeira edição voltou a juntar participantes de todo o país entre os dias 4 e 7 de outubro. Uma preocupação partilhada pelo GTPA que, refere Helena Bandos, também realiza duas iniciativas por ano neste âmbito.
Segundo José Teles, os dois fóruns nacionais anuais – o Fórum Permanente de Teatro realiza-se em março e setembro – serão complementados no futuro por encontros de âmbito regional e local, permitindo maior proximidade e a redução de custos para os grupos de teatro amador, nomeadamente ao nível das deslocações. Os formadores, ligados a diversas áreas, incluindo as técnicas, serão assegurados pela FPT.
A ideia está numa fase embrionária, esclarece, e para que a mesma ganhe forma em 2019 é fundamental o papel dos grupos locais federados enquanto dinamizadores. No caso do Médio Tejo existem grupos decididos a que tal aconteça e alguns começaram o seu ciclo de encontros regulares em Abrantes durante a XII Mostra de Teatro do GTPA.
O I Fórum de Teatro de Amadores do Médio Tejo marca o início de um novo ciclo pois, segundo Helena Bandos, é “um pontapé de saída” para o futuro.