Na semana em que se assinalam os 75 anos da libertação dos prisioneiros de Auschwitz, onde morreram um milhão e trezentos mil judeus às mãos dos nazis, uma crónica fotográfica especial de Paulo Jorge de Sousa
Parti de Budapeste às primeiras horas da madrugada e cheguei a Auschwitz (Polónia), ainda era noite.
O dia estava frio, com nevoeiro e a ameaça de chuva impedia o sol de aparecer.
O nervosismo natural de estar ali fazia desaparecer a sensação de incómodo causado pelo frio. O incómodo era outro, o de poder ver pelos meus olhos o que o ser humano podia ter sido capaz de fazer.
Levava uma máquina fotográfica com uma bateria suplente e um telemóvel, para o caso do frio interferir demasiado nas fontes de energia. Mas cedo me esqueci de fotografar isto e aquilo, de estar atento a este ou aquele enquadramento. Os auscultadores que levava e que me iam informando de todos os pormenores faziam-me pensar e pensar e pensar. Bolas, isto é mesmo verdade!
Nas fotografias que todos conhecemos é uma coisa, mas ali a sentir ainda os cheiros das salas e as queixas que as paredes nos iam fazendo, a coisa era outra.
O estômago teimava em não se desfazer dos nós que se iam criando sozinhos. Os silêncios eram ensurdecedores e os olhares entre as pessoas eram de tristeza profunda. Ninguém pode ficar indiferente, ninguém pode passar ali e não ficar marcado.
Como foi possível aquilo? Como pode alguém pensar num plano daqueles? Não consegui uma resposta e acho que nunca a irei ter.
E não foi assim há tanto tempo, foi mais ou menos 20 anos antes de eu nascer. Foi ontem…
Quem entra no campo de Auschwitz não sai de lá sem o trazer arrastado para o resto da vida.
Foto de Paulo Jorge de Sousa
E fotografias? O tempo da visita é curto e o pensamento não deixava fazer mais.
Ficam apenas as essenciais.
E porquê Auschwitz num jornal regional?
Porque Auschwitz não tem fronteiras, não diz respeito apenas a um povo. Auschwitz é sobre todos nós, é sobre a Humanidade. É sobre a vida.