IMPORTÂNCIA CIENTÍFICA DAS PEGADAS DE DINOSSÁURIOS DA SERRA DE AIRE : de Teruel à Pedreira do Galinha
Quando da descoberta de pegadas de dinossáurio na designada pedreira do Galinha, nos limites de Ourém e Torres Novas, em 04 de Julho de 1994, revelaram-se para o mundo um conjunto de 20 trilhos produzidos por dinossáurios que apresentavam um excelente estado de conservação, com marcas de pés e de mãos bem definidas, sendo que um desses trilhos, com 147 metros, é o mais longo que se conhece produzido por dinossáurios herbívoros e quadrúpedes de pescoço e cauda longos.
Vanda Santos, investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, tem estudado estas pistas da Pedreira do Galinha. Uma das pistas apresentam marcas de mãos com cinco dedos e uma grande garra no polegar orientada para o interior, e a sua forma alargada sugere que os metacarpos estavam dispostos em arco, enquanto as marcas dos pés evidenciam quatro garras triangulares, duas dirigidas para a frente e duas para o exterior, o que, associado à largura das pistas produzidas, sugere a existência de um saurópode primitivo com dedos nas mãos e nos pés e uma estrutura larga de anca.
Os Paleontólogos da Fundação Dinópolis de Teruel-Espanha descobriram há alguns anos vestígios fósseis muito completos de um exemplar de dinossáurio que designaram por Turiasaurus riodevensis, um dos maiores animais que alguma vez habitou a Terra e que alcançava 30 a 37 metros de comprimento e 40 a 48 toneladas de peso. A sua reconstituição e o seu estudo revelou uma novidade para a ciência pois representa um grupo anteriormente não reconhecido de dinossáurios saurópodes europeus primitivos que evoluíram no período Jurássico.
Luís Alcalá, diretor da Fundação Dinópolis (Espanha), defende com evidências científicas, recolhidas por si e pela equipa de paleontólogos que dirige, que este foi o tipo de saurópode que há 175 milhões de anos terá produzido as conhecidas pegadas de dinossáurio da Pedreira do Galinha.
Analisando a distribuição em vida destes animais, Luís Alcalá demonstra que em quatro gerações sucessivas os cerca de 1000 quilómetros que separam Ourém de Teruel poderiam ter sido percorridos por saurópodes como os do género Turiasaurus, e que estes dinossáurios encontrados em Teruel poderiam ser os responsáveis pelos registos de fósseis das pegadas na Serra de Aire.
Estudando as características das pegadas da Pedreira do Galinha e relacionando-as com outras ocorrências e com estruturas ósseas conhecidas, nomeadamente a do gigante de Teruel, sabe-se que o grupo de animais que produziram os trilhos da Pedreira do Galinha corresponde a um estádio de evolução, no Jurássico Médio, intermédio entre os saurópodes mais primitivos e os titanossáurios que se caracterizavam por não apresentarem dedos nas mãos.
Vanda Santos, investigadora do Museu Nacional de História Natural, no âmbito da investigação científica aí desenvolvida, veio defender que as características das pegadas estudadas nos trilhos mais longos, correspondem a um novo “ icnogénero” a quem atribuiu o nome de Polyonyx gomesi em homenagem a Jacinto Pedro Gomes, autor do primeiro estudo de pegadas de dinossáurios em Portugal.
Esta revelação veio enriquecer ainda mais o valioso património natural e científico da Pedreira do Galinha, enquanto património de reconhecido valor Internacional. É de salientar que estes registos continuam a ser investigados e que uma nova tese de doutoramento terá esta jazida como um elemento fundamental no material de trabalho.
O nosso território marca uma etapa na evolução global do nosso Planeta e é importante que todos tenhamos oportunidade de aprender os mistérios destas marcas através da sua divulgação alargada.
(agradeço os contributos científicos de Vanda Santos e Luis Alcalá que me permitiram esta crónica)