Sérgio Silva tem 47 anos e há 27 que faz o transporte de pessoas, de barco, entre as duas margens do rio Tejo em Constância. Sejam moradores da vila ou da margem sul, sejam trabalhadores da Caima ou estudantes que não querem esperar pelo autocarro, o barco é utilizado diariamente por quem precisa, sem quaisquer custos. Com um contrato de avença com a Câmara, o último barqueiro da vila tem uma forte ligação ao rio, que vai para além do transporte de pessoas ou dos passeios de turistas no rio Tejo.
A construção de barcos tradicionais é outra das suas atividades, um ofício que herdou do pai e que desenvolve em parceria com o seu irmão. Nas horas vagas dedica-se ainda à pesca.
A entrevista é feita no cais da vila onde estão atracadas cerca de uma dezena de embarcações, a maior parte dos quais só utilizadas uma vez por ano, durante as festas de Nª Srª da Boa Viagem, por altura da Páscoa.
É com tristeza que Sérgio Silva fala do “seu” rio Tejo. A juntar ao problema da falta de água está o problema da poluição, na ordem do dia sobretudo pelo braço de ferro entre os ambientalistas e os responsáveis de fábricas como a Celtejo, em Vila Velha de Rodão. Água acastanhada e espuma branca ou amarelada são indícios de descargas poluentes a montante de Constância.
O barqueiro lamenta o impacto negativo que a poluição tem na pesca, na fauna, na qualidade da água e na economia da região. “Isto está cada vez mais complicado”, afirma, denunciando a quebra na atividade piscatória, a degradação da qualidade do peixe do rio e a consequente diminuição das vendas.
Também a atividade de construção de barcos tradicionais corre o risco de se perder. As encomendas são cada vez mais escassas e poucos estão dispostos a pagar 700 ou 800 euros por um barco de cinco metros em madeira de pinho, quando podem comprar mais barato em fibra de vidro.
Sérgio Silva explica que as margens de lucro dos barcos são cada vez mais curtas. Mas o problema principal é o preço alto e a crescente escassez de materiais usados na construção de embarcações tradicionais, como o breu, a estopa ou a borra de gás.
“Não aparece ninguém interessado a aprender a fazer isto, porque isto dá muito trabalho, é um trabalho sujo e não se ganha muito”, afirma o barqueiro quando questionado sobre o risco de extinção da atividade.
Problemas que se esbatem com o aproximar das festas de Nª Srª da Boa Viagem (dias 31 de março, 1 e 2 de abril), onde pontificam a beleza do desfile das embarcações, a tradicional bênção dos barcos nos rios Tejo e Zêzere e o fervor dos devotos.