O ex-empresário da Construção Civil, Jorge Ferreira Dias, foi libertado esta sexta-feira do estabelecimento prisional de Leiria onde estava detido desde 23 de dezembro de 2020, depois do juiz do Tribunal de Santarém ter aplicado prisão preventiva, a medida de coação mais gravosa, por agressões a autarcas de Abrantes. Jorge Ferreira Dias aguarda agora julgamento em prisão domiciliária com pulseira eletrónica.
O abrantino Jorge Ferreira Dias voltou na sexta-feira para casa, em Abrantes, cerca do meio dia, mas com uma pulseira eletrónica após mais de 20 dias cumpridos no estabelecimento prisional de Leiria, onde se encontrava desde o dia 23 de dezembro em prisão preventiva.
Em causa o decorrido em reunião de Câmara Municipal no dia 22 de dezembro de 2020 em que autarcas de Abrantes sofreram ameaças verbais e foram agredidos fisicamente pelo cidadão abrantino. Nesse dia, o ex-empresário da construção civil, que há anos mantém litígios com a Câmara e acusa a autarquia de ter responsabilidades na falência das suas empresas, entrou de rompante e visivelmente transtornado no auditório do Edifício Pirâmide, onde decorria a sessão.
Munido de um cajado perguntou aos autarcas: “Querem resolver coisa a bem ou o que querem fazer? Querem resolver a coisa a bem ou vou ter de matar todos?” Posteriormente ameaçou que, caso tivesse de regressar, iria entrar com “uma granada em cada mão” e depois “fechar a porta”.
Jorge Ferreira Dias acusou os autarcas de “falsificação de documentos, burlas”, gritando frases como “vejam o que fizeram com a Mercar” e “acabou-se! Malandros!”.
O homem de 64 anos acabou detido pela PSP. A medida de coação então aplicada foi o culminar de um processo que se arrasta há mais de 20 anos, com episódios semelhantes pelo meio envolvendo ameaçadas ao executivo da Câmara Municipal de Abrantes, nomeadamente à antiga presidente da autarquia, Maria do Céu Antunes, hoje ministra da Agricultura.
Recorda-se que o ex-empresário chegou mesmo a pedir uma indemnização superior a seis milhões de euros, por perdas e danos, mas o Tribunal de Leiria considerou, no ano passado, “totalmente improcedente a ação de Ferreira Dias, por inexistência de facto ilícito e culposo”, absolvendo a câmara das acusações. No entanto, a massa insolvente da Construções Jorge Ferreira Dias recorreu da decisão e o processo segue em tribunal.
Horas depois do ocorrido, a Câmara Municipal de Abrantes condenou e repudiou quaisquer atos de violência física e verbal praticados contra qualquer pessoa, independentemente das circunstâncias, e confirmou em comunicado que no decorrer da reunião de executivo, “o Sr. Jorge Ferreira Dias, munido de um pau com gancho de ferro, entrou ilegalmente no edifício onde decorria a sessão, proferiu várias ameaças verbais aos presentes e agrediu fisicamente o presidente, o vice-presidente e uma trabalhadora do Município”.
Este sábado, em declarações ao mediotejo.net, Jorge Ferreira Dias disse que no estabelecimento prisional de Leiria nunca se sentiu preso. “Recebi solidariedade de toda a gente, li muito e até escrevi um livro que vou publicar”, referiu.
Em 150 páginas, Jorge Ferreira Dias conta relatar em “As noites mais longas da minha vida” a experiência destes dias na prisão.
O cidadão abrantino aguarda agora o desenvolvimento do processo no domicilio.
A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.