O que têm em comum política, jornalismo, educação, sindicalismo e cultura? O facto de serem feitos de pessoas para pessoas e António Bandos, que foi recordado esta quarta-feira, dia 13, na conferência “António Bandos: democracia, memória e desafios”, promovida pelo Clube de Filosofia de Abrantes. A democracia acabou por ser relegada para segundo plano perante as memórias partilhadas que mostraram a superioridade do caráter de quem a materializa. Mais do que valores democráticos, na Biblioteca Municipal António Botto falou-se num homem com valores humanos.
Antigos alunos, colegas de trabalho, familiares e amigos de António Bandos juntaram-se na plateia durante a homenagem a esta figura proeminente do concelho. Ausentes por motivos de agenda estiveram os presidentes da Câmara Municipal, Maria do Céu Albuquerque, e da Assembleia Municipal, António Mor, que enviaram mensagens. Na mesa dos oradores sentaram-se Mário Pissarra, José-Alberto Marques, Orlando Silva e Nelson Carvalho, moderados por Alves Jana na partilha de factos e memórias sobre o docente, político, jornalista e sindicalista falecido em 1997.
Duas décadas volvidas, muitos ainda se recordam do dia em que receberam a notícia, mas a tristeza não foi presença marcante durante a conferência em que António Bandos voltou a conseguir consensos, sobretudo em relação à sua capacidade de gerir diferentes opiniões e convicções. Uniu-as com sensatez e conquistou o respeito de quem se foi cruzando no dia-a-dia com os jornais generalistas e o jornal desportivo “A Bola” debaixo do braço.
A forma como conseguiu geri-las nos 13 anos em que presidiu à Assembleia Municipal de Abrantes, entre 1977 e 1990, e enquanto professor e diretor da escola D. Miguel de Almeida também foi destacada. Ao longo de mais de uma hora também mereceram destaque a capacidade de “ler nas entrelinhas” das notícias e a ligação a projetos jornalísticos locais como o “Correio de Abrantes”, a “Nova Aliança” e a “RAL”, a par da forte ligação ao Benfica.
As marcas da passagem de António Bandos continuam a sentir-se no concelho onde este se estabeleceu depois da infância passada na freguesia de Envendos (Mação), dos estudos no liceu de Castelo Branco e da licenciatura em História obtida em Coimbra no ano de 1967, altura em que casou com Helena Bandos. A esposa esteve presente na fila da frente da conferência e, segundo as diversas intervenções, também na sua vida. Uma “parceria” forte da qual resultaram três filhos e três netos.
Foi mudando a cidade com palavras nos jornais, nas salas de aula, nas bancadas do futebol, nas lutas sindicais e políticas. No último campo, a militância ativa e dinamizadora do Partido Socialista local motivou e inspirou autarcas atuais, como o vereador Manuel Jorge Valamatos que interveio no início da conferência. A cidade retribuiu, nomeadamente dando o seu nome a uma rua (Rua Dr. António do Rosário Bandos), neste momento sem placa toponímica.
O pedido para que a mesma seja recolocada faz crer que ali hão-de voltar as palavras escritas. No entanto, a essência da memória perpetua-se através de palavras partilhadas pessoalmente como as desta quarta-feira. A democracia foi um dos motes da noite, percebendo-se que os valores democráticos só fazem sentido se forem materializados por quem defende valores humanos e António Bandos conseguiu fazê-lo.
Perante isto, também o valor das placas se revela mínimo face à grandeza daquilo que identificam e a prová-lo estão as palavras de José-Alberto Marques no poema dedicado a António Bandos, lido por Paula Val a fechar a conferência: “Um «expert», como tu, não passa pela vida como se fosse uma pedra de museu com inscrição anónima. // Por isso rondo e arrendo o teu percurso como se soubesse o destino infinito dos espaços e dos homens, a secreta esperança do teu nome inscrito no tempo que te coube viver.”.