Os responsáveis das bibliotecas municipais do Médio Tejo fazem recomendações de leitura no nosso jornal todas as semanas. “Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto”, de António Moncada S. Mendes, é a sugestão hoje apresentada por Dulce Figueiredo, da Biblioteca Municipal do Sardoal. Passe pela Biblioteca… e boas leituras!

Haverá quem diga que este livro não é imparcial, porque foi escrito pelo neto de Aristides. Mas algum livro, ou melhor dizendo, autor, conseguirá alguma vez ser inteiramente imparcial?! Se, por um lado, é um neto que fala, desejando corrigir erros, demonstrar incoerências, desvendar mentiras e assim continuar o trabalho de reabilitação do nome do diplomata português, labor levado a cabo desde há anos pelos filhos e amigos de Aristides, também é verdade que os documentos que cita, as fotografias que partilha, as histórias de família que revela dão corpo e alma à figura e à história do cônsul e da sua família.

Deste livro não sai um herói, mas uma aproximação ao ser humano complexo e emotivo que Aristides era. Um homem que se debateu entre o cargo oficial e a pessoa, o dever e a moral, a coragem e o medo, a decisão e as consequências.

Todos sabemos que Aristides desobedeceu a Salazar e granjeou o ódio do regime e uma vida de dificuldades para si e para os seus. Mas os seus atos, “subversivos” para uns e “heroicos/humanitários” para outros, garantiram a sobrevivência imediata a cerca de 30 a 40 mil pessoas em fuga. Nem que seja por isso, vale a pena ler este livro e conhecer a história dos seus protagonistas.

Destaco a frase de abertura do livro porque é um cartão de visitas fiel ao conteúdo.

“Ser neto do Cônsul de Bordéus é uma marca para a vida. Até porque o meu primeiro «visto» tem a assinatura de Aristides de Sousa Mendes. Foi o meu avô que foi testemunha do meu nascimento no documento do Registo Civil que deu início à minha existência legal. Conforta-me saber que o homem que salvou tantas vidas, com a sua assinatura em vistos para quem tentava desesperadamente escapar à morte decretada pelo horror nazi, pôs o seu nome no meu «visto para a vida».”

Arquivista e Bibliotecária na Câmara Municipal de Sardoal

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